30/04/2019 5º Hora dos In-confidentes: um sinal de resistência no século XVIII
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No último sábado, dia 27 de abril, aconteceu nas dependências da Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM) mais uma edição da “Hora dos In-confidentes”, contando desta vez, com a presença da professora, escritora e historiadora Guiomar de Grammond, também curadora e coordenadora do Fórum da Letras em Ouro Preto, com a Conferência “Romanceiro da Inconfidência”. O evento contou também com a presença do diretor da Comunidade da Filosofia, Pe. Euder Daniane Canuto, com o diretor acadêmico da Faculdade Dom Luciano, o Pe. Dr. Edvaldo Antonio de Melo, e claro, com a presença de vários discentes da graduação em filosofia. Ao iniciar sua conferência, a professora ressaltou que na contemporaneidade, muitas vezes, os celulares e as máquinas em geral podem nos afastar uns dos outros, distanciando-nos do “olhar no olho” e do abraço. Em seguida, a docente apresentou relatos historiográficos acerca da história do estado de Minas Gerais, com a descoberta do ouro em 1698 pelos bandeirantes, ressaltando também a vinda de milhares de pessoas para as Minas Gerais, ratificando inclusive, que cerca de 30.000 pessoas passavam fome em virtude da falta de plantações e de estrutura nas vilas que se formavam ao redor das minas, como mencionou, “as pessoas pensavam em buscar ouro e morriam de fome”.

Guiomar de Grammond destacou que nas regiões onde haviam a extração de ouro, a Coroa Portuguesa distribuía as chamadas “datas”, que eram lotes – por sua vez, a primeira data pertencia à Coroa, e as demais distribuídas entre homens que detinham um determinado número de escravos. Na Vila Rica e nas demais regiões dotadas de ouro e pedras preciosas a fiscalização era intensa, e os impostos abusivos, pois esperava-se que todo o metal precioso fosse destinado à metrópole portuguesa. Contudo, a população não foi passiva, em 1720 no Arraial de Ouro Podre, hoje Morro da Queimada em Ouro Preto, aconteceu a Revolta dos Mascarados ou Revolta Filipe dos Santos, em oposição às determinações de fisco estabelecidas por Portugal. A rebelião se estendeu até a Câmara, e Filipe dos Santos – uma das principais lideranças – foi preso e esquartejado.

Segundo a docente, o tempo áureo das Minas Gerais também refletiu na manifestação da arte e da fé, na construção de Igrejas Católicas de expressões barrocas, grande parte financiada pelas ricas Irmandades que disputavam entre si as construções dos templos tanto com a arquitetura do “caixotão” – com torres quadrangulares, como as “barromínicas” – templos com estruturas arredondadas. A grande Festa do Triunfo Eucarístico, na primeira metade do século XVIII, também demonstrava por meio das roupas e acessórios com ouro e pedras preciosas a abundância econômica da região. Contudo, os recursos minerais foram se esgotando e a Coroa Portuguesa acusava que tal escassez era relacionada ao contrabando, instalando na Colônia a derrama em 1788 pelo Visconde de Barbacena, sendo a cobrança dos impostos que anteriormente não foram pagos, sendo o estopim que alguns articuladores locais fomentassem a “Inconfidência Mineira”, importante movimento político do século XVIII.

Após suas abordagens históricas, Guiomar de Grammond declamou alguns poemas do “Romanceiro da Inconfidência” de Cecilia Meireles, de grande riqueza literária, histórica e poética. O discente do primeiro período Washington Ferreira destacou, “é preciso ir além das montanhas, ir avante para respirar a literatura e as poesias e os poemas, entrar em um mundo de falas e contos, encontrar as minas de ouro, não qualquer ouro ou pedra, mas enriquecer de conhecimento, enriquecer por meio de uma grande história”. De fato, tais assimilações históricas acerca da cultura, da política e da economia de nosso estado e de nossa nação, colaboram para uma compreensão crítica, e confirma-nos a presença da resistência como movimento presente ao longo da história do Brasil. Conhecer o nosso passado é um caminho concreto para resguardarmos nossa identidade e nossas conquistas, tanto políticas como sociais.

Colaboração: Moisés Galinari Tôrres – 3º período.
Fotografia: Cássio Patrício – 5º período, e Jonas Reis -1º período.