07/02/2020 Como escutar depois da tragédia? E o ressoar da revelação no silêncio de Deus
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O simpósio filosófico-teológico 2020 com o tema “A voz do silêncio: a escuta da realidade” teve continuidade nesta quinta feira dia 06 de fevereiro, o dia foi marcado pelos painéis ocorridos pela manhã, a parte da tarde foram marcados por comunicações apresentadas pelos alunos da Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM) e do Instituto Teológico São José (ITSJ) e o terceiro dia de nosso simpósio foi finalizado com chave de ouro com a apresentação do Coral do Seminário São José regidos pela organista Josineia Godinho. Todas estas atividades ocorreram no ITSJ.

Durante a manhã ocorreram dois painéis, o primeiro, cujo tema foi “Os afogados e os sobreviventes: como escutar depois da tragédia”, para o qual contamos com a presença do Prof. Dr. Geraldo Emery, docente do colégio Coluni de Viçosa-MG e da psicóloga Lidiane Ferreira do Vale e foi mediado pelo Prof. Dr. Rodrigo Alexandre Figueiredo (FDLM).

O Prof. Dr. Geraldo Emery baseou seu argumento a partir do pensamento do Primo Levi, Hannah Arendt e Giorgio Agamben, os quais possuem um fator em comum em seus textos: o testemunho. Ele também nos inquietou questionando se após acontecimentos como os de Bento Rodrigues e Brumadinho deveríamos mesmo chamá-los de tragédias e não de crimes. Em sua fala o professor buscou basear sua reflexão a partir do campo do direito e da ética. Além desses fatos ele também relatou que a escuta da tragédia permite ir na lacuna dos fatos.

A psicóloga Lidiane Ferreira do Vale trouxe a nós o relato de sua experiência no acompanhamento dos familiares das vítimas e dos sobreviventes das tragédias de Bento Rodrigues e Brumadinho. Ela destacou o modo pelo qual foi feito o trabalho junto às famílias, sobretudo junto as que perderam familiares e amigos. Em sua fala ela ressaltou a dificuldade de alguns familiares em aceitar a perda de seus parentes e as fases que normalmente as pessoas passam durante o processo do luto e algumas atitudes importantes que podemos ter para ajudar aqueles que passam por esse processo.

O segundo painel contou com a presença do Mons. Celso Murilo, diretor espiritual do Seminário São José e do Mons. Luís Antônio, Vigário Geral da Arquidiocese de Mariana, e teve como tema “O ressoar da revelação no silêncio de Deus.

Em sua fala Mons. Celso destacou a importância do silêncio para que consigamos escutar a Deus, para reforçar tal argumento ele utilizou do que está escrito no parágrafo 21 da Exortação Apostólica Pós-Sinodal Verbum Domini do Papa Emérito Bento XVI, o qual afirma que “na dinâmica da revelação cristã, o silêncio aparece como uma expressão importante da Palavra de Deus”. O monsenhor apresentou também os três locais teológicos que se pode escutar o silêncio de Deus: a contemplação, o clamor do pobre e a realidade do sofrimento humano.

Na segunda parte desse painel, Mons. Luís Antônio ao iniciar sua argumentação trouxe o testemunho de dois homens de fé diante de um período em que tiveram de suportar o silêncio de Deus, São Francisco de Assis e de um jovem soldado alemão diante da derrota de seu país na segunda guerra mundial, Jürgen Moltmann. Dando prosseguimento à sua fala, o monsenhor nos inquietou com a seguinte pergunta: Porque em alguns momentos Deus se cala? Para responder a essa pergunta ele iniciou trazendo um trecho do livro Relato de um peregrino russo, no qual se diz dos pecados raiz, dando destaque para o pecado de não crer na Palavra de Deus, que se dá quando se coloca a Palavra de Deus nos limites humanos, e assim, teoriza-se muito, mas pouco se pratica. Diante dessa situação Mons. Luís Antônio recorreu aos ensinamentos de São João da Cruz, místico e doutor da Igreja, para o qual Deus se cala pelo mesmo motivo que nos fala, para a nossa salvação. Ainda no pensamento do doutor da Igreja o silêncio de Deus nos liberta, purifica e amadurece e assim nos une intimamente e esponsalmente a Deus. Mons. Luís também ressaltou que os verdadeiros amigos de Deus são aqueles que souberam conviver com o silêncio de Deus, e frisou que tal silencio é um modo que Deus usa para que nós nos unamos a ele, pois a palavra aproxima e o silêncio une.

Durante a tarde houve a apresentação de dez comunicações feitas pelos alunos das instituições envolvidas, sendo estas divididas em duas salas. Os temas apresentados perpassam os campos da filosofia e da teologia, os quais foram: “Colóquio com Deus: as dimensões do silencio na consolação e na desolação da vida espiritual” apresentada por Carlos Geovane Magri, “O silêncio diante da bondade envolta à fragilidade humana” por Nilo da Silva Neto, “O refinamento da escuta: uma abordagem histórico-teológica em Jorge Mario Bergoglio” feita por Vitor Nogueira de Campos, “Silêncio, interioridade e memória: uma inquietação na vida de Santo Agostinho” apresentada por Ronan Prata Pereira, “O silêncio do perdão em Paul Ricoeur” escrita por David Patriste de Oliveira, “A Paidéia do ouvir: escuta e silêncio na obra como ouvir, de Plutarco de Queronéia”, desenvolvida por Ihudison Coelho, “A banalidade do mal: o silêncio que desembocou em Auschwitz ecoa pela história” feita por Romário de Souza Lima, “O silêncio dos porões: memória ou esquecimento” por Gustavo Geraldo Braz, “Memória, história e verdade: quem são os atingidos de Bento Rodrigues” desenvolvida por Fabiano Henrique de Matos e Emanuel Tadeu Dias Teixeira, e “Uma voz que é calada pela lama” escrita por Oldair Jonnes Ribeiro.

Por fim, o terceiro dia de nosso simpósio foi encerrado com um pequeno concerto musical apresentado pelo Coral do Seminário Arquidiocesano São José conduzido pela organista Josinéia Godinho, no qual foram apresentadas quatro músicas dedicadas à Virgem Maria, as quais foram intercaladas por estrofes escritas a partir de uma meditação do hino do Magnificat (Lc 1, 46-56).

Texto: Lucas Vilela Gonçalves – 5º período de filosofia

Fotos: Cássio Patrício e Ramiro – 1º ano de teologia