Ocorreu no dia 15 de abril a vitrine filosófica do ano de 2023. Este ano com caráter presencial de uma forma especial, reinaugurando o auditório da Faculdade Dom Luciano Mendes. Os alunos do 5º período apresentaram seus projetos de monografia juntamente com seus respectivos orientadores. A vitrine contou com a participação da comunidade acadêmica, do Diretor da Etapa do Discipulado, Prof. Pe. Anderson Eduardo de Paiva, e também do Diretor Acadêmico e Coordenador de Curso de Filosofia, Prof. Pe. Edvaldo Antonio de Melo que acolheu a todos e os motivou em suas pesquisas.
O discente Samuel Malta afirma que “A iniciativa de apresentação do projeto perante a comunidade tem um retorno positivo e contribui para a pesquisa, uma vez que algumas questões que são apresentadas ajudam a solidificar a pesquisa, ao mesmo tempo em que alguns questionamentos nos levam a buscar outras respostas e aprofundar ainda mais a pesquisa.”
Intitulado “A relação entre Angústia e Indivíduo em Soren Kierkegaard” e com a orientação do Prof. Dr. Maurício Reis o trabalho apresenta o autor “Soren Aabye Kierkegaard, um pensador dinamarquês que data da metade do século XIX, sendo o último dos filhos de um casal de idade mais avançada. Tem uma infância marcada pela forte presença religiosa da época que contribui decisivamente para o seu ingresso em um curso de teologia, o qual o leva a um contato com o pensamento hegeliano e, posteriormente, ao seu questionamento e a se tornar o então fundador do pensamento existencialista moderno. A partir de então surgem os questionamentos que permeiam a existência humana, os quais são alvo do questionamento kierkegaardiano em relação a Hegel.
Destarte Kierkegaard volta-se também para o aspecto da religiosidade dado em especifico nas duras críticas proferidas ao luteranismo vigente na Dinamarca e não obstante se volta especificamente para tentar entender a questão do sentido do pecado e a angústia, fase também marcada por uma profunda crise existencial do filósofo, a qual é fundamental em sua vida. A partir de então o mesmo partirá de uma reflexão sobre o mito do pecado original, dado em específico a partir da análise do pecado de Adão e a partir desta versa acerca da angústia.
Esta noção de angústia em Soren Kierkegaard compreende a produção da individualidade, pensando a angústia como possível na existência humana a partir da obra O conceito de angústia. Está noção que se dá perpassando pelos conceitos de liberdade, inocência e queda bem como pelos estádios estético e o ético alcançando o estádio religioso. Abordando assim o pecado como causa da angústia, bem como expondo que há um possível caminho de fé como salvação diante da angústia, compreendido nas palavras do autor como o chamado salto qualitativo.” (Samuel Malta)
Já o discente Marcos Faustino, sendo orientado pelo Prof. Dr. Rodrigo Figueredo, aborda a temática: “Governamentalidade algorítmica como agenciamento social”. E afirma que “este estudo busca compreender e refletir sobre uma questão observada na sociedade vigente, mas com base em Michel Paul Foucault (1926-84) – francês que é associado como filosofo estruturalista – devido ao fato de tratar de uma racionalidade de governo, observada em grupos do corpo social, mas que se estende a outras instâncias. Por isso, estima-se trabalhar sobre a temática da governamentalidade algorítmica.
Partindo da sua obra Segurança, Território, População, com foco nas aulas de 1 a 8 de fevereiro de 1978, tratando da definição e aplicação do governo nos séculos XVI a XVIII, e investiga noções como: os tipos de governo, o alvo e dispositivos que permitem o governo. E assim, transpor esse arcabouço filosófico para o principal componente das tecnologias de informação: o Algoritmo, recurso esse que se enquadra ao fenômeno apresentado por Foucault.
O que determina a governamentalidade passa pelo âmbito de saber gerir tudo o que engloba aquilo que está sendo governável, dessa maneira a relação proposta por ambos os temas classifica a problemática como agenciador a social. Isso porque o modo como o algoritmo é programado garante administrar toda humanidade em diversos setores da vida, ou seja, todos que o utilizam são em vários níveis influenciados, gerenciados, conduzidos.”
Já o discente João Lucas apresentou o trabalho denominado “Disputas em torno à realização da filosofia: A dialética em Hegel e Adorno”. Sendo orientado pelo prof. Dr. Maurício Reis, o projeto desenvolve a dialética em “Hegel através de uma estrutura dinâmica na qual a ideia de infinitude está diretamente ligada ao conceito do potencial subjetivo da consciência para transcender a si mesma em todos os momentos. Na obra Fenomenologia do Espírito, Hegel segue a consciência desde sua compreensão mais sensível e básica até o conhecimento absoluto, uma lógica impulsionada pela batalha entre opostos no caminho da consciência comum até a autoconsciência e daí até a razão, o conhecimento absoluto.
Não obstante, Theodor Adorno escreveu em 1966 a obra Dialética Negativa, em que aponta a dialética como “detentora em sua natureza e constituitividade uma repulsa e indignação ao princípio de identidade e onipotência da racionalidade instrumental” (POLTEL, MASS E FREITAS, 2015, p. 97). Assim a dialética negativa nada mais é do que uma reformulação do projeto da teoria crítica. Nesse ponto, o exercício filosófico não pode funcionar sem a realização de uma crítica de si mesmo. É uma questão de compreensão, porém ao contrário, não de uma negação, mas de um novo elemento teórico-metodológico que é fundamentalmente parte de seu desenvolvimento filosófico, na crítica das filosofias sistemáticas.
Deste modo há uma relação e uma reciprocidade dos conceitos, a que Adorno se refere na Dialética Negativa. Estes conceitos não são entendidos como simples unidades que demarcam posições subjetivas, mas como tendo vida própria porque existem dentro da história que foi depositada sobre eles. A liberdade de pensar como resistência em sua estrutura e, especificamente, no crescimento de seu desdobramento reflexivo, pois é possibilitada pelo método filosófico revelado na compreensão da dialética negativa, manifestada no movimento da insuficiência do conceito.
É possível medir as diferenças substantivas entre os dois modelos de dialética, o hegeliano e o adorniano, abordando o papel que os conceitos de totalidade e negatividade desempenham em cada um deles. Em Hegel, há uma relação indissociável entre negatividade e totalidade Para Adorno, nessa indissociabilidade, a negação se coloca, ao fim e ao cabo, para a afirmação do todo, o que para ele significa uma relação acrítica, afirmativa e, no limite, apologética para com a realidade social. Por fim, nota-se que é possível avaliar as distinções significativas em cada um dos dois modelos dialéticos, tanto hegeliano quanto adorniano, apontando as ideias de totalidade e negatividade que ambos desempenham.”
Em suma, a vitrine filosófica despertou interesse de toda comunidade acadêmica presente, resultando em discussões interessantes que em um futuro breve possam se tornar novos trabalhos.
Créditos do texto: João Lucas Ferreira Basilio (discente do 5º período, bacharelado em Filosofia)
Créditos da foto: Caio Amora (discente do 1º período, bacharelado em Filosofia)