03/12/2021 Concluintes da Graduação em Filosofia na Faculdade Dom Luciano Mendes apresentam o Trabalho de Conclusão de Curso
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Na última semana do mês de novembro do ano de 2021, discentes do 6º período da Graduação em Filosofia, da Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM), apresentaram o Trabalho de Conclusão de Curso, configurado como Monografia. A Banca de TCC era composta pelo Professor orientador, primeiro e segundo leitores. A defesa aconteceu pela plataforma Google Meet, na sala virtual, podendo ser acompanhada por outros discentes da própria Faculdade e demais instituições de ensino, a fim de serem despertados para temas de pesquisas futuras.

Vejamos abaixo uma pequena explicação sobre os trabalhos monográficos apresentados. Neste ano, a comunidade acadêmica, sem dúvida, foi enriquecida, uma vez que vários foram os temas abordados, nas mais diversas áreas da Filosofia, remontando filósofos antigos a contemporâneos.

“Conhecimento e ensino da virtude no Mênon de Platão” – Ihudison de Paula Coelho. Em seu TCC, o discente abordou sobre o conceito de virtude (areté) desde a antiguidade grega clássica, culminando em Sócrates e Platão, principalmente, no diálogo Mênon, além de perceber como Platão considerou a virtude como um problema filosófico, bem como os desdobramentos de sua investigação na primeira parte do Mênon, cuja temática era a virtude enquanto saber e aprendizagem. Por fim, refletiu sobre problemática do aprendizado e ensino da virtude em sua continuidade na segunda parte do Mênon, percebendo no que consiste tal aprendizado levando em conta a doutrina da anamnese – entendida como fonte do conhecimento no diálogo em questão.

“Uma abordagem do conceito de virtude aristotélica na Ética a Nicômaco” – Vitor de Paula Paiva. A prática das virtudes é o tema principal da ética aristotélica. A virtude consiste na mediania. Aristóteles subdividiu as virtudes em intelectuais e morais. A virtude moral é adquirida por nós pelo hábito, pela constância de ações praticadas em conformidade com a razão. Já a virtude intelectual se ordena ao conhecimento, sendo fruto do ensinamento, responsável por julgar o que é certo e o que é errado. O fim último da virtude, para Aristóteles, é a felicidade. Está, para o filósofo, consiste no bom exercício do seu pensamento pela prática da virtude. Portanto, a mediania precisa ser exercitada por nós a fim de vivermos uma vida moralmente saudável, seguindo as virtudes aristotélicas, chegando à tão sonhada e almejada felicidade, a finalidade última do homem.

“A problemática da mentira na obra De Mendacio de Santo Agostinho” – David Patriste de Oliveira. Foi-nos mostrado que a doutrina do “duplo coração” é a intenção deliberada presente no mentiroso que, asseguradamente, aproveita da crença e da ingenuidade do ouvinte para propagar as suas falsas ideologias. Vimos, ainda, que as piadas e as brincadeiras não são mentiras e a origem da mentira possui raízes profundas, logo, brincadeiras despretensiosas não visam o engano. Assim, Agostinho compreende que a mentira pode até ser considerada como um mal menor, aliás, muitos eram aqueles que a defendia em algumas ocasiões, mas o filósofo concluiu que a mesma é digna de ser problematizada. De fato, o filósofo reconhece que existem momentos em que manter a veracidade acima de tudo é muito difícil, mas, uma vez permitida, a mentira contradiz a própria doutrina religiosa.

“A empatia como condição constitutiva da pessoa humana em Edith Stein” – Carlos Henrique de Mattos Chaves. A empatia, rigorosamente falando, é um ato que é originário como vivência presente, mas não originário segundo o seu conteúdo. Ela é originária enquanto ato, ou seja, eu colho, aqui e agora, a dor do meu amigo pela perda de seu irmão, por exemplo.  No entanto, não enquanto conteúdo. O sentido dessa dor é originário só para o meu amigo, mas cooriginário em mim. A empatia, portanto, não me põe dentro do outro, mas faz que eu me dê conta do objeto de sua experiência. Pela análise desta vivência, Edith Stein afirma que a constituição do indivíduo alheio é condição para a constituição completa do próprio indivíduo.

“A crítica à indústria cultural na Dialética do Esclarecimento” – Mateus Lopes de Carvalho. O trabalho buscou apresentar o problema da indústria cultural a partir de sua elaboração conceitual realizada por Theodor Adorno e Max Horkheimer na “Dialética do Esclarecimento” com ênfase em seus cinco operadores, a saber: manipulação retroativa, usurpação do esquematismo, domesticação do estilo, despotencialização do trágico e o fetichismo das mercadorias culturais. Para tanto, evidencia-se a instrumentalização dos meios culturais, seja a partir do diagnóstico dos autores no século XX, seja a partir dessa acepção como legado histórico do próprio processo de esclarecimento que, no âmbito da indústria cultural, torna-se mecanismo para a mistificação das massas e de redução do potencial crítico face às manifestações culturais contemporâneas. Assim, partindo dos pressupostos do fenômeno, principalmente no que se refere à relação entre o mito e esclarecimento, à razão instrumental e ao mundo administrado, analisa-se o fenômeno da indústria cultural, por meio dos citados operadores, para, em seguida, apontar possíveis releituras da estrutura “clássica” na contemporaneidade.

“A noção de compaixão como fundamento da moralidade no pensamento de Arthur Schopenhauer” – Jonas da Costa Reis. O propósito central deste trabalho consistiu em apresentar a concepção de compaixão como fundamento moral na filosofia de Arthur Schopenhauer. Para tal, pontos relevantes de sua filosofia foram abordados, como a representação (fenômeno), vontade (coisa-em-si), o pessimismo e as “virtudes cardeais” para um verdadeiro agir moral presente na obra O mundo como vontade e representação e Sobre o fundamento da moral. A partir de pressupostos metafísicos, Schopenhauer chega à sua própria concepção de compaixão como fundamento da moral, explicando a possibilidade de lidar com o problema do egoísmo que desencadeia uma forte afirmação de si, caracterizada pela condição do ser vivente. O fundamento moral proposto pelo autor, possibilita ao homem um desenvolvimento na prática cotidiana de uma conduta pautada no respeito incondicional na relação do ser humano, com o mundo e com todos os outros seres viventes. Nesse sentido, a saída, apresentada segundo nosso filósofo para a situação do egoísmo, é a negação da vontade, ou seja, a compaixão, que envolve um estado de identificação com o outro através da unidade da vontade, onde eu sou capaz de identificar que o sofrimento do outro possui a mesma configuração que o meu próprio sofrimento.

“A liberdade como pressuposto para o agir Ético em Jean-Paul Sartre”Matheus Gomes Ferreira. Sartre defende a existência de uma liberdade absoluta, nada pode impedir o homem de ser livre, não há determinismos que o constitua, que o limite em sua existência, até mesmo porque o homem primeiro existe e somente depois constitui a sua essência. Não há quem o determine, quem o projete, quem o construa, pois não existe uma essência humana que preceda à sua existência, pelo contrário, ele existe e é existindo que ele se constrói e desenvolve também os seus valores. Para ele, não existem valores a não ser aqueles criados pelos homens em meio a situações concretas do mundo. Portanto, a ética sartreana é a ética da ação e do engajamento consciente. Dessa forma, no nível ético, para Sartre, a não existência de Deus (ou de um ser superior) coloca a responsabilidade nas mãos dos homens. Os homens tornam-se incomensuravelmente responsáveis pelas escolhas que fazem, pelo uso de sua liberdade, pelo mundo que desejam criar e pelo mundo que efetivamente criam, consequentemente, são absolutamente livres e responsáveis por si mesmos e pelos outros.

“Do Estado Liberal de Direito ao Capitalismo de Estado em Friedrich Pollock” – Karine de Souza Gomes. O trabalho buscou abordar a passagem do Estado Liberal de Direito, desde sua emersão no cenário revolucionário de ascensão da burguesia, os desdobramentos desse Estado com seu retroalinhamento com o sistema capitalista, até a incorporação de uma nova fase identificada por Pollock de Capitalismo de Estado. Seu diagnóstico aponta para uma nova fase do regime capitalista em que o poder político tem primazia sobre o poder econômico, e onde o Estado centraliza suas ações através do planejamento.

“A ressignificação do sofrimento humano em Emmanuel Lévinas”Nillo da Silva Neto. A pesquisa teve o objetivo de investigar como Lévinas trata a questão do sofrimento humano, buscando ressignificá-lo, considerando os eventos sucedidos ao longo da história, no que tange ao sofrer, como o atual contexto da pandemia da Covid-19, sobretudo, no cenário sombrio do século XX, com as duas grandes guerras, no qual o sofrimento foi colocado à prova de forma extrema, pois envolveu, na maioria dos casos, humanos, inocentes e justos. É no pathos, radicado na condição humana, que demonstra não apenas emoções e sentimentos, mas também sofrimento. Nos ocorridos de Auschwitz e no auge de uma filosofia subjetivista e totalitarista, é perceptível a presença do mal, onde não era possível sequer pensar que havia uma teodiceia que desse conta de justificar tais ocorridos. O filósofo da alteridade, Lévinas, buscou propor uma saída para essa situação relacionada a uma ressignificação do sofrimento a partir de uma relação intersubjetiva.

“O espírito como princípio de unidade estrutural da pessoa humana na Antropologia Filosófica de Lima Vaz” – Bruno Diego Garcia. O respectivo trabalho buscou investigar como a categoria do espírito, na antropologia vaziana, afirma-se na constituição do ser do homem.

Após as apresentações das bancas, todos os discentes foram considerados aprovados. Sem dúvida, as experiências para outros discentes que acompanharam as defesas de TCC’s foram riquíssimas. Vejamos dois depoimentos sobre a riqueza das apresentações:

Para o discente, Samuel Malta, do 2º período da Filosofia, “Cada oportunidade que temos em nossa vida torna-se única. Para além das oportunidades, as experiências que adquirimos ao longo do caminho nos moldam e nos possibilitam fazer escolhas. Participando nos últimos dias das bancas de TCC’s dos concluintes do último período do curso de Filosofia, tive a oportunidade de vivenciar e ao mesmo tempo prestigiar os trabalhos que ao longo de mais de um ano vinham sendo preparados. Foi de fundamental relevância perceber naqueles trabalhos a seriedade com a qual foram produzidos, além do empenho e dedicação de quem muitas vezes não mediu esforços para realizar uma pesquisa de cunho extremamente acadêmico”. Além disso, ele ressalta que “as qualidades de um trabalho ao longo de um curso tornam-se, sobretudo para aqueles que iniciam o curso, uma motivação diante do fato de que é possível, além de nos inspirar para futuras escolhas de temas a serem trabalhados”.

Já para o aluno do 4º período também da Filosofia, Robinson dos Anjos: “Poder participar das apresentações dos trabalhos de conclusão de curso foi uma oportunidade de aprendizado para o futuro, visto que me preparo para a minha pesquisa do próximo ano. A partir das orientações, colaborações e partilhas realizadas pelas bancas, somos também alertados e despertados para fatores e riscos que nos assolam quando se trata de um trabalho desta proporção, que envolve muita leitura, hermenêutica, escrita e grande dedicação de tempo, que nos provoca vícios imperceptíveis a nós que nos debruçamos sobre autores e temas”. Ele finaliza dizendo que o acompanhamento das monografias é se alegrar com os amigos que “após um árduo trabalho de pesquisa conclui mais uma etapa em suas vidas”.

Créditos do texto: Carlos Henrique e Nillo Neto, 6ºperíodo

Créditos da arte/foto: Jonas Reis, 6º período