26/05/2025 FDLM ENCERRA XXII SIMPÓSÍO FILOSÓFICO-TEOLÓGICO COM APRESENTAÇÃO DO PROJETO DO MANUAL DE CONSERVAÇÃO PREVENTIVA DOS BENS CULTURAIS DA ARQUIDIOCESE DE MARIANA
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No dia 23 de maio de 2025, sexta-feira, por volta das 09h00, deu-se início ao terceiro dia do XXII Simpósio Filosófico-Teológico, realizado pela Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM), pela Arquidiocese de Mariana e pelo Seminário Arquidiocesano São José, com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU/MG), como parte do Projeto Memória, iniciativa que busca retomar e valorizar a história da primeira Igreja particular de Minas Gerais. Com o tema “280 anos de criação da Arquidiocese de Mariana: bens culturais da Igreja – salvaguarda, conservação e proteção”, este evento tem o objetivo de contribuir para a valorização, promoção e salvaguarda dos riquíssimos bens materiais e imateriais da Primaz de Minas, em sua importância histórica, artística, cultural e, principalmente, religiosa.

A primeira conferência do dia, intitulada “Conservação Preventiva e análise de riscos”, foi ministrada pelo Prof. Dr. Willi de Barros Gonçalves (UFMG), especializado em Arquitetura, Urbanismo, Engenharia Mecânica e Artes e vice-presidente da Associação Nacional de Pesquisa em Tecnologia e Ciência do Patrimônio (ANTECIPA). Sua apresentação ressaltou, sobretudo, a presença frequente de riscos ao patrimônio artístico, cultural, histórico e religioso, fato que demanda a sua constante análise por parte dos administradores dessa grande riqueza. Nesse sentido, o conferencista destacou que, no gerenciamento desses riscos, deve-se buscar o convencimento das autoridades públicas em relação ao financiamento das ações de preservação dos bens culturais.

Ademais, o professor apresentou, ao longo de sua fala, diversos argumentos a favor de uma gestão responsável dos riscos ao patrimônio, como o seu imenso valor cultural e histórico e os muitos exemplos reais de sua deterioração, vulnerabilidade e depredação no Brasil e no mundo. Diante disso, o doutor Willi igualmente expôs, ao longo de sua palestra, os muitos deveres dos gestores do patrimônio nas ações de conservação preventiva derivados da complexidade desse problema, a exemplo de um saber interdisciplinar, de um estudo aprofundado do contexto social, econômico e histórico em que se encontram os bens, do seu frequente monitoramento e documentação, da avaliação real dos riscos e da consciência do valor de cada objeto, cuja conservação é antes um investimento do que um gasto.

PAINEL II

Ainda na parte da manhã, por volta das 11h00, houve o painel intitulado “Da prática à realidade das Paróquias”, mediada por Carlos José Aparecido de Oliveira (Diretor do Museu de Arte Sacra de Ouro Preto) com a participação de Efraim Rocha, coordenador de Patrimônio da Arquidiocese de Mariana; Pe. Jean Lúcio de Souza, participante da Comissão de Bens Culturais e Lélio Pedrosa Mendes, representante da Secretaria Municipal de Patrimônio Cultural e Turismo.

O mediador Carlos José, ressaltou a importância do inventário como um diagnóstico fundamental da história da Igreja e conservação do Patrimônio. Além disso, trouxe como exemplo, o cuidado com os acervos históricos e artísticos do Padre Simões, antigo pároco da Paróquia de Nossa Senhora do Pilar, em Ouro Preto, que, o inspirou em seu atual trabalho.

Em seguida, através de uma fala muito afetuosa, o palestrante Lélio, destacou seu amor e zelo pela cidade de Mariana, no qual apresentou, por uma memória afetiva, o legado e a história da cidade e da Arquidiocese, desde os seus primórdios. Encerrou sua fala, com um comovente trecho de um poema, sintetizando seu apreço e carinho pela história da Primaz de Minas.

Logo em seguida, o coordenador de Patrimônio da Arquidiocese, Efraim Rocha, ressaltou o patrimônio como uma percepção exata do que deve preservar e como uma reflexão profunda da realidade de vida de cada lugar, ou seja, tudo o que reflete a história e o modo de vida de uma comunidade, por mais simples que possa parecer. E disse que, contar as histórias dos antepassados, é preservar o patrimônio e torná-lo vivo. Já no âmbito religioso, ressaltou o patrimônio como algo tomado pela fé, pelo belo e pela forma como foi esculpido, dizendo que as cidades históricas nasceram ao entorno da fé e da Igreja.

Além disso, apresentou o Patrimônio não só como aquilo que é antigo ou tombado e, completou, “O novo hoje já pode nascer histórico e, o hoje, futuramente, será antigo”. Por fim, mostrou que o zelo, o cuidado e o carinho das pessoas, em cuidar dos bens das Igrejas, também são um patrimônio.

Assim, para concluir o painel, o Pe. Jean, continuando a temática sobre a realidade das Paróquias, ressaltou muito a palavra cuidado, pois ela é a base de tudo, diante de uma realidade complexa. Disse que, o sacerdote não é dono do patrimônio, mas um gestor. À vista disso, apresentou a paróquia como um lugar da ação (pluralidade) em três esferas, no qual, o agente (padre) se revela: pastoral, administrativa (Eclesial – diálogo eclesial e público – diálogo com o executivo e o legislativo) e judicial.

Ressaltou que, entre os entes administrativos, Igreja e Estado, deve haver sempre a necessidade do diálogo, como um processo de conhecimento e entendimento. Além de uma participação eclesial e pública com a participação efetiva da sociedade civil e a comunidade pastoral, com um diálogo maduro com uma produção não violenta, mas mediadora e conciliadora.

Destacou algumas entidades que desempenham papéis fundamentais na esfera eclesial como, o lugar do Bispo, o lugar dos párocos, a CNBB (Região Leste II – Comissão de Bens Culturais da Igreja), os lugares reservados ao direito do Romano Pontífice e os lugares de diálogo entre a Administração Eclesial (proprietária) e a Administração Pública (solidária – em casos de tombamento e interesse coletivo).

Além disso, ressaltou que os bens culturais são amplos e estão inseridos no cotidiano social e espiritual da Igreja. E, para os seus cuidados, os padres, em seu ser, também deve ter bom conhecimento teórico e bom exercício técnico, complementando que, em sua atuação, não cabe “achismo” e “amorismo”, pois nenhum bem cultural tolera descaso. Reafirmou que os bens dialogam com a sociedade e sempre é autônomo, mas não é autossuficiente, pois ele possui materialidade.

Portanto, afirmou dizendo que as “práticas” exigem a compreensão do bem, de sua história, sua composição e o lugar existencial que ocupa na identidade local. O bem cultural não é inerte, mas sim, constituinte de uma identidade cultural. Por isso, é processo na constituição do saborear o local e a memória do povo.

Por fim, destacou o Patrimônio como possuinte de quatro vertentes, enquanto bem cultural: ação ou trabalho, memória, identidade ou identificação e repercussão (som, eco, ressonância). E chamou a atenção para estarem atentos com os bens culturais e seus patrimônios, pois entre eles há conflitos em diversos âmbitos como: as edificações com novas técnicas e novos métodos de conservação preventiva; os espaços novos e antigos; os lugares de gradativo apagamento social e cultural; a religiosidade popular e a conservação de seu modo de ser e viver a fé e novas interpretações sobre e, divergências entre Irmandades e Ordens Terceiras e a multiplicidade de seu patrimônio, dentre outros.

Com isso, mostrou que é neste contexto que a ação paroquial deve se dar, sobretudo no cuidado e no respeito um com o outro, pois aí se faz presente a cultura social de um povo que deve ser respeitada. Por isso, encerrou dizendo que o Patrimônio Cultural ensina o ser humano todos os dias.

PAINEL III

À tarde, pouco antes das 15h00, deu-se início ao terceiro painel do simpósio, com o tema “A necessidade de preservação do patrimônio cultural da Arquidiocese de Mariana e seus impactos nas cidades”. As exposições foram mediadas por Sandra Fosque (arquiteta da Arquidiocese de Mariana, especialista em Gestão do Patrimônio Cultural) e apresentadas por André Henrique Macieira (coordenador técnico da Superintendência Regional do IPHAN/MG), Hugo Mateus Gonçalves Rocha (gerente de Articulação com os Municípios – IEPHA), Maria Letícia Ticle (supervisora técnica de Patrimônio Cultural da Plataforma Semente – CeMAIS) e Regis Eduardo Martins (coordenador do curso de Tecnologia em Conservação e Restauração – IFMG).

A primeira apresentação, por André Macieira, com o nome “Obras de restauro e participação social”, abordou três grandes restauros em Ouro Preto que contaram com importante participação popular: do Santuário Nossa Senhora da Conceição, da capela de Santo Antônio (Glaura) e da capela de Bom Jesus de Matozinhos. Já a segunda fala, de Hugo Rocha, tratou do surgimento, descrição e aplicação do Programa ICMS Patrimônio Cultural em Minas Gerais, que busca promover a salvaguarda do patrimônio histórico. A terceira exposição, de Maria Letícia Ticle, apresentou a plataforma Semente, fruto de uma cooperação entre o Ministério Público de Minas Gerais e o CeMais com o intuito de proporcionar maior segurança jurídica, transparência e democratização à promoção dos bens culturais, além de um destaque à importância dos projetos de restauração. Por fim, a quarta apresentação, de Regis Martins, expôs o curso de Tecnologia em Conservação e Restauração do IFMG, que prepara multidisciplinarmente profissionais capacitados para a preservação do patrimônio no cotidiano.

APRESENTAÇÃO DO PROJETO

Na tarde de sexta-feira, 23 de maio de 2025, durante a última apresentação do XXII Simpósio Filosófico-Teológico, foi lançado o “Manual de Conservação Preventiva dos Bens Culturais da Arquidiocese de Mariana”. O projeto foi apresentado pelo Prof. Dr. Pe. Edvaldo Antônio de Melo, Diretor Acadêmico da FDLM, pelo Pe. José Geraldo Coura (Pe. Juca), Ecônomo da Arquidiocese e Diretor Administrativo da FDLM, pela arquiteta Sandra Fosque e por Rafael César da Cruz, representante da Práxis – Conservação e Restauração.

O manual nasce do compromisso com a proteção e preservação do patrimônio cultural, histórico, artístico e espiritual da Arquidiocese. Segundo a arquiteta Sandra Fosque, a proposta oferece orientações acessíveis e práticas para o cuidado do patrimônio sacro, despertando nas comunidades paroquiais uma percepção mais consciente sobre a importância da conservação preventiva. Ela também destacou a parceria com a Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM), que contribui na formação dos futuros responsáveis pela gestão dos bens culturais das paróquias.

Em sua fala, o Pe. Edvaldo contextualizou a iniciativa dentro dos 280 anos de história da Arquidiocese de Mariana, ressaltando a alegria pela realização do simpósio dedicado aos bens culturais. Destacou ainda que a FDLM realizada um curso de pós-graduação em História da Arte Sacra, fortalecendo ainda mais esse compromisso com a preservação.

Na sequência, o Pe. José Geraldo Coura (Pe. Juca) enfatizou o cuidado da Arquidiocese com seu patrimônio, realizado por meio de grupos atuantes que zelam por sua preservação. Após sua fala, passou a palavra ao professor Rafael César, que trouxe uma reflexão sobre os desafios enfrentados no campo da conservação e restauração. Segundo ele, há muita falta de conhecimento e falta de interação entre os agentes envolvidos, o que gera divergências no trato com os bens culturais. Por isso, reforçou que a atuação nessa área exige formação, conhecimento e responsabilidade.

Retomando a fala, a arquiteta Sandra apresentou os detalhes do manual, que foi elaborado para ser de fácil manuseio, destinado aos sacerdotes, agentes das comunidades e responsáveis pelo patrimônio nas paróquias. A obra é dividida em duas partes: a primeira, teórica, com textos sobre conservação e prevenção dos bens culturais; e a segunda, prática, com um roteiro de inspeções periódicas tanto na edificação quanto no acervo artístico das igrejas. Segundo ela, trata-se de um manual pensado para o dia a dia, que auxilia desde os cuidados mais simples até a identificação de problemas maiores, com o objetivo de evitar danos de grande escala e assegurar a preservação dos valores artísticos/estéticos e históricos.

O Pe. Edvaldo finalizou destacando a importância da memória agradecida e afetiva que marca a história da Arquidiocese de Mariana. Complementando, o Pe. Geraldo Dias Buziani afirmou que o simpósio se soma de forma significativa ao caminho formativo realizado no Seminário São José e reforçou a relevância do manual para o cotidiano das paróquias.

O evento foi encerrado com a fala do Pe. Juca, que ressaltou como a temática do simpósio impulsiona todos a olharem para frente com esperança e para a preservação dos bens patrimoniais da Igreja.

Créditos do texto: Pedro Augusto Alves Toledo, discente do 1° período da graduação em Filosofia pela Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM), e Vítor Alves Rodrigues e Silva, discente do 3° período da graduação em Filosofia pela FDLM.

Créditos das Fotos: cedidas pelo Prof. Dr. Luiz Antônio da Cruz (EAU-UFMG) e Thalles Andrade Torres –  discente do 1º Período da graduação em Filosofia da Faculdade Dom Luciano Mendes (MG).