23/05/2025 SEGUNDO DIA DO SIMPÓSIO SOBRE OS BENS CULTURAIS DA IGREJA: COM WORKSHOP DA FAOP, PALESTRAS E CONFERÊNCIAS
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Com alegria, Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM) realiza o XXII Simpósio Filosófico-Teológico intitulado “280 anos de criação da Arquidiocese de Mariana: bens culturais da Igreja – Salvaguarda, conservação e proteção”, em parceria com a Arquidiocese de Mariana e o Seminário São José, e com o apoio do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Minas Gerais (CAU/MG). O Simpósio é resultado das atividades do Projeto Memória (https://projetomemoriaarquidiocese.faculdadedomluciano.com.br/), também idealizado pelo FDLM, que tem como iniciativa retomar e valorizar a história da Primaz de Minas.

Na manhã do dia vinte e dois de maio do ano de dois mil e vinte e cinco, às 8:30, ocorreu, no auditório Dom Oscar de Oliveira da Faculdade Dom Luciano Mendes, o segundo dia do XXII Simpósio Filosófico-Teológico. Este evento teve início com o Workshop que abordou a temática: “O ensino e a prática da conservação e restauro do Patrimônio Histórico Cultural”, apresentado pela equipe de conservação e restauração (LABCOR / FAOP). O evento contou com a participação de alguns membros da instituição: Cesar Teixeira de Carvalho – Assessoria Técnica de Remoção e Extensão da Fundação de Arte de Ouro Preto (FAOP); Bianca Monticelli – Gerente do LABCOR e restauradora; Luana Santa Maria – Assessora e Restauradora; e Luís Otávio – Restaurador.

A apresentação foi dividida em dois momentos. No primeiro, a palavra foi dirigida a Cesar Teixeira, que destacou a seriedade do trabalho realizado no LABCOR/FAOP em relação aos objetos religiosos recebidos para o restauro. Esses objetos fazem parte da cultura, história e até mesmo da identidade de um povo. O professor frisou também que a FAOP surgiu antes de vários outros órgãos da cidade de Ouro Preto, com o restaurador Jair Afonso Inácio em 1970, e é pioneira no sentido de pensar a formação cultural no campo artístico.

Desse modo, já no segundo momento, a gerente do Laboratório de Conservação e Restauração, Bianca Monticelli, iniciou sua fala ressaltando o curso oferecido por esta instituição desde 1970. Seu objetivo é formar profissionais com especialidade na área da pintura de cavaletes, policromias, restaurações de papéis, dentre outras funções. Dessa forma, Bianca destacou a importância da conscientização e valorização de patrimônios e objetos culturais, pois, quando se trata de patrimônio cultural, se trata de algo material, mas também de um imaterial, ou seja, aquilo que vai além do físico, como: emoções, saberes, lugares, etc.

Por fim, aconteceu no local uma aula prática de como conservar objetos e acervos: imagens, livros antigos, artigos religiosos de prata, de ouro e quadros, utilizando coisas caseiras como: algodão, flanela, pincel e palitos. Os meios apresentados são para que determinado objeto cultural não se deteriore por completo, pois “a conservação tem que fazer parte da rotina para evitar muitas coisas”, palavras de Bianca Monticelli.

A tarde desta quinta-feira, 22 de maio, foi marcada pela continuação das atividades do simpósio, com o início do Painel I – Vídeo Conferência às 14h30, com o tema “A Pastoral da Cultura, Comissão de Bens Culturais, Gestão Integrada dos Bens Culturais da Igreja a Partir do Evento”. O auditório Dom Oscar de Oliveira contou com a presença de discentes e docentes, e demais seminaristas do Seminário São José da Arquidiocese de Mariana, e autoridades civis e religiosas. Compondo a mesa virtual, Padre Luciano da Silva Roberto, membro do clero da Arquidiocese de Mariana-MG, é graduado em Filosofia pela Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM) e Teologia pelo Instituto Teológico São José-Mariana. É pós-graduado em História da Arte Sacra pela Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM) e em Análise e Gestão do Patrimônio Cultural (Uni-BH). Desde 2019, ele atua como assessor nacional do Setor Cultura e Bens Culturais da Comissão Episcopal para a Cultura e a Educação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Também participou o Dr. Rafael Azevedo Fontenelle Gomes, Doutor e Mestre em Artes Visuais/História da Arte pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduado em Museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). Ele é colaborador da Comissão Episcopal Pastoral para Cultura e Educação (CNBB), além de professor de Imaginária Brasileira, Novas Tecnologias em Museus, Plano Museológico, História da Arte e Arquitetura, com o tema “Pastoral da Cultura e Gestão Cultural dos Bens da Igreja”.

Padre Luciano, em sua fala, destacou a importância de celebrar os 280 anos da Arquidiocese, enfatizando que a Arquidiocese de Mariana sempre se preocupou com a cultura. Ele ressaltou o conceito que sempre teve com cada fiel em sua determinada cultura, defendendo que tudo aquilo que é humano e cultural necessita da presença constante da Igreja, suscitando a fé na cultura. Enfatizou a importância de a fé tornar-se cultura e a relevância dos centros educacionais da Arquidiocese, lembrando o Seminário São José e também o Colégio do Caraça, responsável por líderes religiosos e civis.

Foi também destacado o Colégio Providência, uma instituição com rica história, nascida da visão de Dom Viçoso. Ele foi o responsável por trazer as Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo da França, um movimento que lançou as bases para este colégio.

Outrora, o Colégio Providência foi um pilar na formação de inúmeras mulheres que se tornaram importantes para a sociedade. E, honrando seu legado, nos dias atuais, a instituição continua a desempenhar um papel fundamental, formando diversos alunos destacou a importância da cultura em seus espaços, como museus, e nos meios de comunicação, como o jornal O Arquidiocesano, e dos artistas que marcaram a história com suas artes. Os bens culturais da Igreja hoje são locais de turismo religioso e visitação, assim como o Arquivo Eclesiástico, as Bibliotecas Eclesiásticas e o Museu da Música, que são todos bens culturais.

Se tratando dos bens culturais, a Igreja sempre valorizou todos os estilos, de acordo com a época, a índole e os povos, por isso não considera uma única forma de arte. Todo esse acervo é considerado seu tesouro artístico, deixando livre a arte em nosso tempo também. Em 1971, através da Linha Quatro de Pastoral, que tratava da liturgia, a Igreja acolheu a proposta do Concílio Vaticano II, o que posteriormente levou ainda mais ao cuidado com os bens culturais. Recordando nossa história particular da Igreja de Mariana, perpassando pela arte sacra e pelos bens culturais na Igreja de forma especial no Concílio Vaticano II, o magistério e o Código de Direito Canônico.

Doutor Rafael, em sua fala, demonstrou a importância do inventário para a identificação e recuperação dos bens culturais, enfatizando a relevância desse meio. Ele abordou que o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) possui 27 superintendências e 37 escritórios técnicos, além de 06 unidades especiais, com um total de 1.201 bens tombados. Ressaltou a importância do sistema de catalogação, demonstrando sua relevância na Arquidiocese do Rio de Janeiro. Mencionou também o Banco de Bens Culturais Procurados, que é uma ferramenta de fiscalização do INEPAC (Instituto Estadual do Patrimônio Cultural), muito útil para encontrar objetos que estão sendo procurados. A partir dessa iniciativa, é possível ter a recuperação de bens sacros e artísticos. Isso tudo ressaltou ainda mais a importância do inventário, que ajuda a encontrar objetos com mais precisão e facilidade. Entre os desafios e perspectivas, destacou a sustentabilidade como um fator crucial para zelar cada vez mais pelo patrimônio.

Após as falas, os participantes presentes no Auditório Dom Oscar de Oliveira, na Faculdade Dom Luciano Mendes, puderam fazer perguntas e colocações aos ministrantes Padre Luciano e Dr. Rafael Azevedo.

Às 16h30, teve início a Conferência sobre “A paisagem Cultural como instrumento de gestão e promoção do patrimônio Cultural em Minas Gerais”, ministrada pelo Dr. João Paulo Martins, presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (IEPHA-MG). Dr. João Paulo é graduado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), e mestre em História e Culturas Políticas pela UFMG. Ele ressaltou a importância desses momentos para a sociedade.

Em sua fala, o Dr. João Paulo Martins abordou a “Paisagem Cultural como instrumento de gestão e promoção do patrimônio cultural em Minas Gerais” e a importância de preservar essas paisagens. Ele destacou como esse instrumento pode ser trabalhado, dada sua importância paisagística, que constitui espaços em seus movimentos culturais na região de Ouro Preto, Mariana, Santa Bárbara e Catas Altas. Ressaltou o Patrimônio Religioso como força transformadora da Paisagem Cultural, enfatizando que todos devem valorizar o que já possuímos. Ele também abordou o potencial para ir além do religioso, citando como exemplo a Serra da Canastra, e discorreu sobre a proposta de políticas públicas e a gestão de bens culturais em relação ao ambiente e ao entorno.

Em entrevista concedida para nossos sites, o Doutor Rafael Azevedo ressaltou a importância de integrar a discussão sobre patrimônio cultural no contexto da formação teológica e filosófica. O Doutor enfatizou o papel significativo da Igreja na preservação do patrimônio cultural, especialmente em Minas Gerais. Após ministrar sua fala, o Dr. João Paulo também esteve aberto para perguntas e interações com os presentes, tanto online quanto presencialmente.

“Primeiramente, agradecer o convite da possibilidade de estar participando desse evento, e do quanto é importante trazer essa discussão sobre o patrimônio cultural, paisagem também, aqui para a formação teológica, filosófica, aqui do seminário. Como que a presença da Igreja e os seus bens culturais, a Igreja tão marcante em Minas Gerais, boa parte do nosso patrimônio conhecido tombado, ele tem associação tanto com bens materiais como imateriais, com as celebrações e bens culturais da Igreja. É fundamental que os padres, toda comunidade religiosa, esteja também afeita nessas questões de patrimônio cultural, da sua conservação e gestão. Então, a gente louva muito o evento e agradece a presença e a temática proposta”, declarou o Doutor Rafael Azevedo.

No período da noite, às 19:30, aconteceu uma videoconferência com a ilustre participação do Prof. Dr. Marcos Tognon (UNICAMP), o qual abordou a seguinte temática: “Conservação preventiva do Patrimônio Sacro: metodologia, estratégias e experiências”. O professor frisou um dos documentos do Papa Francisco, a Laudato Si’, destacando o número 143, acerca de uma Ecologia Cultural: “É preciso integrar a história, a cultura e a arquitetura de um lugar, salvaguardando a sua identidade.” Desse modo, é preciso uma conservação preventiva, ou seja, cuidar com antecedência de objetos e acervos culturais de grande importância para a história e para um determinado lugar. Essa conservação preventiva é um conjunto de ações aplicadas aos bens culturais materiais, oferecendo um bom estado de conservação. Segundo o professor, essa prevenção oferece um cronograma, um roteiro e um protocolo.

Na oportunidade, o professor apresentou um dos inimigos da conservação, os quais se encontram presentes na maioria das igrejas históricas: as infestações de cupins. Entretanto, é preciso tomar as devidas prevenções contra os xilófagos no patrimônio sacro, combatendo-os com técnicas profissionais, como: aplicação de óleo nas peças de telhado; aplicação de óleo no extradorso das peças do forro; dentre outros critérios de grande importância na preservação do patrimônio sacro que não alteram as propriedades visuais e físicas da madeira.

Por fim, o conferencista apresentou vários exemplos de trabalhos de restauração realizados em igrejas pelo Brasil, como: a Basílica de Nossa Senhora do Carmo, Campinas – MG; a Matriz de São José e a Igreja de Nossa Senhora do Carmo – Mogi Mirim, São Paulo, dentre outros templos de grande valor para os fiéis e para a história, sempre ressaltando a importância da conservação preventiva, pois ela cria estratégias de planejamento para a preservação dos bens culturais.

Créditos:

Texto: Gerlison Ferreira Fernandes  e Wesley Lopes Dumont, discentes do 3º período da graduação em Filosofia da Faculdade Dom Luciano Mendes (MG).

Fotos: André Rodrigues Marques –  discente do 3º Período e  Thalles Andrade Torres –  discente do 1º Período da graduação em Filosofia da Faculdade Dom Luciano Mendes (MG).